Uma análise do seriado Pachinko

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Texto por: Fernanda Aparecida Lopes Balthazar

Publicado em 2017, o best-seller “Pachinko” ganhou uma adaptação pela plataforma de streaming Apple TV, lançada em 2022. A obra narra as esperanças e sonhos de uma família de imigrantes coreanos ao longo de quatro gerações, atravessando o período da colonização japonesa na Coreia do Sul, que perdurou entre os anos de 1910 e 1945.

A série é uma superprodução de tom épico e melodramático que conquistou avaliações muito positivas em sites de críticas especializadas, como o Rotten Tomatoes, no qual recebeu 100% de aprovação — não somente por trazer um elenco de grandes estrelas do leste asiático, mas também por criar poesia visual ao narrar a história de Sunja e sua família.

A produção tem início com Sunja ainda criança, na Coreia ocupada pelo Japão, mas concentra-se primordialmente em duas épocas: quando a protagonista é uma jovem adulta e tem seu destino alterado ao cair nos encantos de Hansu, um homem rico e mais velho; e quando ela já é uma avó dedicada, lidando com várias crises familiares no Japão dos anos 80 país este que passou a ser a sua “morada” ao ficar grávida de Hansu, acabando por se casar com um pastor que a levou para longe dos olhares curiosos da vila de pescadores em que vivia. Sunja percebe que a vida dos coreanos em terras japonesas não é fácil e, assim, acompanhamos as dificuldades enfrentadas por ela e sua família.

“Pachinko” é um dos projetos mais lindos e corajosos que ganhou vida no ano de 2022. Ao abordar as adversidades da imigração com sutileza e impacto na medida certa, a série passa uma mensagem de amor, que floresce dentro de uma família dada a situação em que estão envolvidos, e de força ante um cenário preconceituoso e xenofóbico, que é evidente durante toda a trajetória da família no Japão. O nome da série por si só traz um peso histórico no que tange à xenofobia escancarada no decorrer da narrativa: “Pachinko” é um jogo popular japonês que pode ser jogado em casas de jogos, como cassinos — na trama, o filho de Sunja ganha a vida
com esse jogo, sendo, naquela época, considerado um trabalho indigno, de modo que, geralmente, era realizado por descendentes de coreanos, já que não eram aceitos pela sociedade.

Esse cenário permanece atual quando se trata de preconceito com relação a imigrantes: há diversas “Sunjas” ao redor do mundo que, assim como a protagonista, buscam não só uma vida mais segura e tranquila, mas também respeito, direitos básicos e a oportunidade de viver com dignidade.

Neste sentido, os oito capítulos da obra são repletos de luto e desamparo e, embora as questões concernentes a sangue, pátria e preconceito sejam extremamente específicas, os sentimentos que delas emanam são universais, uma vez que geram identificação e empatia com relação às personagens. Por outro lado, a obra também traz a necessidade de autodeterminação diante da injustiça e, sobretudo, emociona ao retratar a força de uma mulher imigrante e os seus sentimentos.

Os dez últimos minutos da primeira temporada trazem uma coletânea de depoimentos de mulheres reais que imigraram da Coreia do Sul para o Japão durante o período colonial, no início do século XX. Elas tornaram-se um “povo sem pátria” ao decidirem lá permanecer após a Segunda Guerra Mundial, mas “Pachinko” reforça que a esperança reside em recomeços,
especialmente ao celebrar histórias que refletem a árdua jornada de Sunja: uma filha, mãe e avó coreana, imigrante e sobrevivente.

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Grupo de Estudo Arte Japonesa Unifesp

Grupo de estudo ministrado pela Profª Michiko Okano com o objetivo de divulgar a arte e a cultura japonesa no Brasil