Análise — Golden Kamuy

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Texto por: Bárbara Barros

Cultura, humor e violência. É neste entrelaçamento que o anime “Golden Kamuy” traz referências históricas e consegue mesclar fatos com ficção. O campo ético dos homens é entrelaçado por catástrofes naturais amenizadas pela sabedoria da guerreira ainu, que ensina métodos de sobrevivência na selva para caça e cozinha. No início, é ambientado na guerra entre Japão e Rússia, o enredo se desdobra a partir de acontecimentos entre a personagem principal e seu amigo. Após a morte de seu amigo Toraji, Sugimoto, enquanto garimpa em Hokkaido, um homem conta a história de um prisioneiro que tinha roubado uma quantia de ouro e tatuou nos corpos de outros prisioneiros usando saliva e carvão um mapa para se chegar a esse tesouro. Como promessa, diz a esses homens que iria dividir o ouro com eles porém, durante o desenrolar da trama, Asripa, com seus conhecimentos do povo ainu, percebe que não havia pretensão real de divisão do ouro com os homens, pois as tatuagens foram feitas de um modo que se pudesse retirar a pele para ser usada como mapa . O homem, autor do roubo e dos assassinatos, é Nobera bō, que é uma referência a um yōkai( um demônio ; criatura sobrenatural do folclore japonês) um fantasma sem rosto. Nobera bō, ao roubar o ouro do povo ainu assassinou também, dentre outros, o pai de Asripa. Eles estão em busca de 75 quilos de ouro, que representam 800 milhões de ienes, ouro este que os ainus estavam juntando para formar um exército com o objetivo de lutar contra os japoneses que haviam tomado suas terras. O autor do mangá se preocupou em detalhar fielmente a cultura do povo ainu, esses aspectos são retratados com detalhes ao final do mangá, com as devidas referências. De modo mais sintético, mas ainda sim fidedigno, essa cultura aparece no anime de forma enriquecedora. O enredo é enriquecido com aspectos culinários relatados pelos personagens, entrelaça a cultura do soldado e mostra o estranhamento da personagem Asripa, e do soldado Sugimoto o Imortal. Isso fica muito evidente quando eles apresentam um ao outro a culinária, por exemplo. Personagens autênticos com estilos marcantes e de tanta autenticidade acabam dando um viés cômico à estória, mesmo que seja totalmente brutal. Muitos desses personagens foram inspirados em pessoas que realmente existiram, por exemplo, um dos prisioneiros que foram tatuados, especialista em fugir, nomeado de Shiraishi Yoshitake, foi preso por furto, mas sua pena acabou aumentando por conta das fugas.

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Grupo de Estudo Arte Japonesa Unifesp

Grupo de estudo ministrado pela Profª Michiko Okano com o objetivo de divulgar a arte e a cultura japonesa no Brasil