Chen Kaige (陈凯歌), a Revolução Cultural Proletária e o cinema chinês

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Texto por: Nanda J. Muniz

Chen Kaige é um renomado diretor de cinema chinês, nascido em 12 de agosto de 1952, na cidade de Pequim, China. Atualmente, ele tem 70 anos de idade. Ele é reconhecido, ao lado de Zhang Yimou (diretor de “O Clã das Adagas Voadoras”), como um dos mais bem-sucedidos diretores da quinta geração do cinema chinês.

A quinta geração de cineastas chineses surgiu nos anos 80, após o período da Revolução Cultural Chinesa, um movimento sociopolítico que ocorreu na China de 1966 a 1976, com duração de aproximadamente 10 anos. É impossível falar sobre Chen Kaige sem mencionar esse período histórico, pois suas experiências pessoais tiveram um impacto direto em suas produções cinematográficas.

Durante a Revolução Cultural Proletária, a produção de filmes nacionais chineses foi praticamente nula, exceto por obras que ilustravam correntes e ideais políticos. Esse movimento, lançado por Mao Tsé-Tung, presidente do Partido Comunista da China (PCC), tinha como objetivo preservar o comunismo chinês purgando elementos capitalistas e tradicionais da sociedade.

Esse período tumultuado causou enormes danos à economia e à cultura chinesa. Embora haja variações nas estimativas, pesquisadores concordam, em média, que cerca de 400 mil pessoas perderam a vida durante esse período. Em 1981, o governo chinês reconheceu que a Revolução Cultural havia sido um grande erro e pediu desculpas ao povo.

Em 1978, dois anos após a morte de Mao, o Instituto de Cinema de Pequim foi reaberto, embora ainda sob intensa censura. Chen Kaige foi um dos 150 alunos matriculados na época. Nas primeiras obras dessa nova geração de cineastas chineses, pode-se observar os reflexos da Revolução Cultural implantada por Mao. Essas obras eram caracterizadas por um rigor formal, especialmente em termos de enquadramento e fotografia.

O filme “1 and 8” (1983), dirigido por Zhang Yimou, marcou uma ruptura com essa “formalidade sequencial” presente nas obras da quinta geração, apresentando enquadramentos assimétricos e atores raramente posicionados no centro da cena. Foi depois desse filme que Chen Kaige se uniu a Zhang Yimou para dirigir “Terra Amarela” (1984), onde utilizaram um rio como personagem central da história.

Essa decisão de revolucionar o enquadramento e a forma visual dos filmes resultou em censura para Kaige e Zhang Yimou. A montagem de cena, que escapava dos padrões de rigor estabelecidos, foi proibida até 1987. O governo passou a apoiar o lançamento de filmes mais comerciais, como filmes de kung fu, na tentativa de abafar e controlar as produções da quinta geração, que retratavam uma realidade mais crua da China.

Chen Kaige se tornou um nome importante no cinema chinês por sua contribuição e participação nessa história, trazendo em suas obras um apelo evidente de suas vivências durante a Revolução Cultural. Quando ele tinha 14 anos, denunciou seu próprio pai às autoridades como “inimigo do povo”, influenciado pela ortodoxia maoísta propagada pela Revolução Cultural. Seu pai, Chen Huaikai, um autor de filmes baseados na trama da Ópera de Pequim, foi condenado a trabalhos forçados em um dos gulags chineses. Chen Kaige foi enviado para um período de “reeducação revolucionária” em uma área rural.

Antes mesmo de se separarem, Chen Kaige já havia se arrependido e pedido perdão a seu pai, um perdão que lhe foi concedido, mas ele próprio nunca se perdoou totalmente. Esse episódio foi um marco em sua vida e ele expressou o desejo de recriá-lo em um filme.

Esse momento da vida de Kaige também deixou sua marca em suas obras cinematográficas. É possível notar, de forma alusiva e subjetiva, a influência desse período em sua filmografia. Em seus filmes, ele retrata a dor que seu pai deve ter enfrentado e, ao mesmo tempo, busca se desculpar. A forma como ele conta essas histórias revela o arrependimento que ele carrega. Isso também se reflete no filme Adeus Minha Concubina.

O filme foi lançado quando Kaige tinha 41 anos e ganhou a Palma de Ouro em Cannes em 1993 e o prêmio Bafta de Melhor Filme em Língua Não Inglesa em 1994, além de ter sido indicado ao Oscar em 1993.

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Grupo de Estudo Arte Japonesa Unifesp

Grupo de estudo ministrado pela Profª Michiko Okano com o objetivo de divulgar a arte e a cultura japonesa no Brasil