Análise de Kimi no na wa (Your Name)

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Por Antônio Galletti, Gladys Agbanusi e Milena Cidrão.

Animação de 2016 da produtora CoMix Wave Films/Direção: Makoto Shinkai.

Usando como base uma lenda okinawana chamada Musubi, a lenda da corda vermelha, Your Name apresenta uma narrativa criativa sobre o destino e o acaso, sobre o amor como uma união que transcende tempo e lugar através do sagrado. Nesta animação outros elementos como, por exemplo, a troca de corpos entre os personagens principais, o Kataware doki — a hora do “quem é você”, a bebida Kuchikamizake e o crepúsculo (Tasokare) são usados para conduzir a história e apresentar as intenções do roteirista e diretor Makoto Shinkai ao criar uma história profunda, com diversas camadas, a partir de temáticas já usadas em outras produções.

Your Name reflete sobre angústia, anseios por um futuro ainda distante, choques entre gerações e o equilíbrio de identidades através da história de dois jovens, Mitsuha e Taki, que trocam de corpo um com o outro durante um período de tempo, fazendo com que criem uma amizade forte entre eles e descubram mais sobre o Japão de cada um. Taki é um jovem de Tóquio, vivendo no Japão modernizado com pouco contato com as tradições antigas e os costumes que a modernização acabam tirando, como conseguir passar um certo tempo com a família. Já Mitsuha é o oposto de Taki, nascendo em uma cidade do interior, e tendo muito contato com as tradições japonesas — durante o filme descobrimos que a família de Mitsuha cuida de um templo xintoísta e a conexão entre eles não apresenta apenas uma distância de quilômetros, mas também de tempo, pois Taki vive três anos à frente do presente vivido por Mitsuha. Os dois, Mitsuha e Taki, representam a relação entre Japão Antigo x Japão Moderno respectivamente.

O filme mostra o Japão Moderno voltando a reconhecer as tradições da cultura japonesa e mesmo não sabendo o significado daquelas tradições por terem sido perdidas há muito tempo (a avó de Mitsuha conta que a tradição existe, mas não sabem mais o motivo dela existir), a animação frisa que ela continua tendo a sua importância. Além disso, o Japão Antigo começa a conhecer o ritmo da modernidade e tentar conviver com o novo Japão, sendo representado por Mitsuha sonhando em morar na cidade e posteriormente se acostumando com as diversas variedades de comida e pessoas que existem em Tóquio.

Os aspectos sobrenaturais são dados pelo Japão Antigo, onde ele serve para salvar a cidade de uma iminente destruição por conta de um meteoro, mostrando as tradições poupando a cidade de uma destruição, já que sem as tradições a cidade teria sido destruída e com ela parte da essência da nação.

Com cores fortes, traços finos e uma harmonia hipnotizante, a fotografia de Your name compõe cenas de arrancar suspiros do espectador. E não é à toa, de acordo com o IMDb a equipe de fotografia de Your Name conta com 16 pessoas. O próprio Makoto Shinkai, além de roteirista e diretor, trabalhou na direção de fotografia. Ele conta que realizou um estudo aprofundado das luzes em ambientes externos, na intenção de capturar cada detalhe com maestria, o que traz resultados impressionantes nas suas imagens. O sol tem papel central na fotografia, como no tom amarelado do pôr do sol ou “golden hour” que reflete grande parte das cenas. O amarelo com as sombras ganham uma vida única, melancólica e quente. Completamente diferente do que comumente é encontrado em animações no geral.

O céu é o principal palco para o espetáculo de azuis e amarelos que o filme apresenta. Em um grande crepúsculo, acompanhamos a batalha entre o frio e o quente, além de termos a chance de descobrir diversas nuances entre essas duas cores. São elas que protagonizam a cena tão esperada do meteoro.

A mise en scène do filme nos conta em detalhes, aparentemente triviais, minuciosidades essenciais das personagens. Como quando a “câmera” vagueia pelos quartos, nos mostrando pelo cenário o contraste entre tradição e modernidade que a história apresenta. Em japonês, existe uma palavra para isso, é o “Ma” que significa intervalo, espaço, tempo e Your name é repleto desses vazios, mas é importante ressaltar que não se trata de um vazio gratuito ou sem sentido, é nesses vácuos que a história se expande, abrindo espaço para a contemplação do público e o aprofundamento das personagens. Isso traz uma sensação de veracidade para história, como se estivéssemos espiando por trás da narrativa. E é justamente através da fotografia que o “Ma” se faz presente em Your Name. Além disso, “Ma” é também a sobreposição e coexistência de elementos como o frio e o quente ou dia e noite do crepúsculo, o golden hour já citado, cena esta que constitui o clímax do animê.

A banda RADWIMPS foi a responsável por criar a trilha sonora da animação e garantiu a Your Name uma música de impacto para cada momento essencial, muitas vezes cantando e tocando diretamente sobre os sentimentos dos personagens como em Nandemonaiya ou traduzindo a dificuldade dos personagens em seguir em frente, visto que ainda não haviam concluído a história que criaram juntos, como em Zen Zen Zense. A banda ganhou reconhecimento pelo trabalho bem feito, além do prêmio Nippon Academy-shō, e chegou a fazer, em conjunto com uma orquestra, uma apresentação de toda a trilha sonora acompanhando o filme em uma sessão especial — demonstrando mais de uma vez gratidão e orgulho pela participação na obra.

Por fim, nos minutos finais de Your Name, a animação deixa ainda mais evidente as suas camadas em uma belíssima narrativa com diversas interpretações. Makoto Shinkai nessa obra mostra a importância dos rituais antigos para os japoneses de hoje, relembrando a importância dessa parte da cultura e não querendo que ela se perca nesse mar de novidades do Japão atual, mas também mostra as dimensões do significado da palavra Musubi. Kimi no na wa, qual é o seu nome?, é sobre o passar do tempo, a importância de valorizar o presente sem desprezar o passado, é sobre conectar pessoas e a união que surge ao dar importância a tudo e todos que são conectados pelo entrelaçamento de fios que é o Musubi.

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Grupo de Estudo Arte Japonesa Unifesp

Grupo de estudo ministrado pela Profª Michiko Okano com o objetivo de divulgar a arte e a cultura japonesa no Brasil