Análise — Amor a Flor da Pele/ In the Mood for Love

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Texto por: Denis Almeida dos Santos

Como começar a falar do longa de Wong Kar-Wai, intitulado no Brasil de: “Amor à Flor da pele”?

Proponho começar pela beleza discreta e silenciosa dos protagonistas: Sra. Chan, uma secretária (Maggie Cheung), e Sr. Chow Mo-Wan, um jornalista (Tony Leung), caracterizados no filme pelos seus belíssimos figurinos, ela com vestidos estonteantes e cheio de cores fortes e ele um terno discreto, preto, mas não menos elegante.

Poderia destacar também a ausência de seus cônjuges, que têm suas imagens ocultadas nos quadros do filme, aparecendo apenas suas penumbras e vozes, simbolizando assim a ausência deles e a enorme distância que os mesmos mantêm para com os seus respectivos companheiros. Ou ainda, poderia falar dos espaços estreitos dos locais em que Sra. Chan e Sr. Chow residem que, junto com a solidão causada pela falta de seus cônjuges oficiais, unem o casal. Aliás, o filme é pródigo em exibir em suas cenas lugares apertados, estreitos, becos quase sem saída, talvez para traduzir uma Hong Kong que crescia, na década de 1960, desproporcionalmente, e que necessitava de mais espaços. Ou para utilizar esses espaços apertados como símbolo da falta de lugar que eles tinham para se amar em suas vidas (formais e tristes) de casados.

Sr. Chow é o mais ousado do pretenso casal, pois mesmo sem eximi-lo da culpa, se é que podemos usar essa palavra, de não ter sido, junto com a secretária, um casal “de verdade” aos olhos da sociedade, de não ter vivido o amor como seus companheiros estavam vivendo mutuamente, parte sempre dele a mínima força de se assumirem, ou de pelo menos, se entregarem de corpo e alma àquele amor que florescia nos becos e vielas de Hong Kong.

O jornalista era a parte do “casal” (se podemos realmente falar que ele formava um casal com a vizinha) que se declarou apaixonado com todas as letras, que mesmo no silêncio da noite e de forma escondida tentou fazer ela falar que o amava, que, em um quarto de hotel ou no quarto de pensão, tentou se aproximar de verdade de sua vizinha rejeitada pelo marido. Chow até no ensaio em que a preparava para confrontar o marido cobrou uma reação mais incisiva da amada, porém sem resposta. Sra. Chan não tinha forças para assumir o amor que estava florescendo, pois era muito frágil para ir contra o matrimônio falido, para expor a traição, seja de que traição falamos: a de que ela sofria ou a de que estava prestes a cometer.

Sr. Chow, mesmo compartilhando um silêncio de um amor proibido e guardando o segredo para sempre em um buraco negro, tentou à sua maneira, à sua época, viver aquilo que Sra. Chan não pôde. Talvez ser um homem em Hong Kong na década de 60, mesmo casado, proporcionasse mais condições e coragem a ele de expor mais esse romance, talvez porque nele ardia mais esse amor de forma incontrolável, talvez seu desejo de vingança de traído era mais forte do que o sentimento de abandono de sua amada vizinha. Isso nunca saberemos, pois seus segredos ficaram guardados em um buraco negro, tampado para sempre na obscuridade de suas história

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Grupo de Estudo Arte Japonesa Unifesp

Grupo de estudo ministrado pela Profª Michiko Okano com o objetivo de divulgar a arte e a cultura japonesa no Brasil